Os desafios das empresas familiares
- Comunello & Rohden
- 2 de jul. de 2020
- 3 min de leitura
A governança familiar como ferramenta para a perpetuação da família e dos negócios familiares

Por todo o mundo, nas mais diversas culturas, existem provérbios que registram a chamada “Regra das Três Gerações”. No Brasil é o famoso: “Pai rico, filho nobre, neto pobre”. De fato, quando se olha para os números relacionados à mortalidade das empresas familiares que não conseguem superar a troca de gerações, vê-se que a sabedoria popular se baseia em evidências.
As causas para o insucesso da perpetuidade da empresa familiar são as mais diversas: venda da empresa, perda de interesse na família, desafios imprevistos, mudanças no ramo, oportunidades perdidas, conflitos na família, má gestão, problemas de sucessão, confusão entre família e negócio.
Empresas familiares possuem sistemas mais complexos do que empresas não-familiares, pois devem conviver harmonicamente FAMÍLIA, PROPRIEDADE e ATIVIDADE EMPRESÁRIA, o que se denominou “Modelo dos Três Círculos”*.
No início da empresa familiar, os fundadores concentram em si os três círculos (família, propriedade e empresa). Com o passar do tempo, cada um desses sistemas cresce e se torna mais complexo, potencializando conflitos, seja pela diversificação de interesses, seja pela diluição da autoridade. O desafio, portanto, da empresa familiar, é encontrar a equação para a tomada de decisões difíceis, ao mesmo tempo que se preserva a harmonia e a unidade familiar.
Emblemáticos são os casos de grandes e prósperas famílias que vão à bancarrota. De outro lado, quando se olha para empresas familiares que se perpetuam por décadas, e mais de século, o que se verifica em comum é a existência de uma boa governança familiar. E o que é uma boa governança familiar?
Governança familiar é um sistema de regras de organização e de conduta que regula as relações da família, sua propriedade e seus negócios. O ponto de partida para uma governança de sucesso é a clareza com relação aos valores e a união e respeito ao legado moral. Este desafio começa com os próprios fundadores, buscando um desempenho equilibrado nos diversos papéis que atua: Empresário, Chefe de Família e Cidadão. Os fundadores devem transmitir, pelo exemplo, às próximas gerações, os valores que serão o alicerce seguro sobre o qual se edificarão os negócios da família.
Nas gerações que sucedem os fundadores, o que invariavelmente se percebe é o enfraquecimento de empenho e da tomada de riscos, mostrando-se, a necessidade de superação da inércia, como um dos principais desafios. Assim, cada geração deve ter a energia de criação e trabalho como se fosse a primeira; buscar adicionar valor ao legado; e ser um ativo, e não um passivo.
Este pacto de gerações, em torno de valores claros e bem definidos, é a condição fundamental para a continuidade da empresa familiar e dos negócios da família. A partir daí se estabelecem as regras de organização e conduta, para a realização e preservação de seus valores fundantes.
As estruturas e as regras devem ser documentadas. Como se dará a gestão dos negócios, o ingresso de novos administradores e a preparação das novas gerações. Como se dará a utilização do patrimônio familiar. Como se dará a distribuição das rendas dos negócios, de modo a preservar a saúde, educação e desenvolvimento de toda a família. Quais serão os fóruns de tomada de decisão e de resolução de empasses. Estes e outros tópicos devem ser objeto de deliberação e consenso, para que a família, a partir de seus valores fundamentais, possa aliar os pilares que sustentarão a perpetuidade da empresa e dos negócios: UNIDADE FAMILIAR <-> CRESCIMENTO DOS ATIVOS DA FAMÍLIA <-> DESENVOLVIMENTO E CAPTAÇÃO DE TALENTOS DENTRO E FORA DA FAMÍLIA.
O direito societário, aliado ao direito de família e sucessões, empresta excelentes ferramentas para que as famílias empresárias possam documentar e regular as relações entre seus membros, seu patrimônio, a renda e o futuro dos negócios, em um sistema de governança, em que todos e cada um tome parte, de acordo com seus méritos e interesses, com união, harmonia e equilíbrio.
*Modelo criado pelo pesquisador de Harvard John Davis.
Luciano Comunello
luciano@advocaciacr.com.br
Advogado formado pela PUCRS, com LLM em Direito dos Negócios pela Unisinos e especialização em Gestão de Tributos e Planejamento Tributário Estratégico pela Faculdade de Administração, Economia e Contabilidade da PUCRS.
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